sexta-feira, 8 de outubro de 2010

domingo, 25 de abril de 2010

Clostridiose neonatal (leitões)

A patologia intestinal em leitões é uma importante causa de perdas económicas na suinicultura. No controlo dos surtos desta patologia é crítico um diagnóstico rápido e assertivo a nível da exploração. Tendo em conta a epidemiologia do surto, a idade dos animais e a localização e tipo de lesões, o clínico pode estabelecer com alguma fiabilidade um diagnóstico provisório, pendente de confirmação laboratorial.



Caso:

Exploração de ciclo fechado, que segue um estrito esquema de tudo dentro tudo fora, com 200 porcas e maneio por estratos de 3 semanas. As porcas são vacinadas às 6 e 3 semanas antes do parto, contra Escherichia coli, enterotoxemia (inclui toxina b de Clostridium perfringens tipo C) e carbúnculo sintomático (Clostridium chauvoei). Os leitões são vacinados com a mesma vacina no primeiro dia de vida. Em duas ninhadas observou-se uma mortalidade de aproximadamente 100%, na primeira ninhada (n1) os 100% da ninhada morreu de forma hiperaguda e a maioria sem sintomatologia e outros com diarreia hemorrágica, nas primeiras 24 horas de vida, e na segunda ninhada (n2), 7 de 10 animais morreram aos 3 dias de idade e todos com sintomas de diarreia hemorrágica. Foram enviados para o laboratório de diagnóstico veterinário dois leitões mortos de n1 e um de n2 para estudos microbiológico, parasitológico e anatomo-patológico. A suspeita clínica é de clostridiose neonatal e pretende-se descartar outros agentes infecciosos, tendo em conta que a exploração é vacinada com o toxoide de Cl. perfringens tipo C.



Lesões macroscópicas detectadas:

Leitões de n1 apresentam restos de fezes castanho escuro aderidos à pele em volta do ânus. Há algum liquido sero-sanguinolento na cavidade abdominal, parede intestinal, da maioria do intestino delgado (principalmente jejuno) está avermelhada, dilatada e com conteúdo intestinal de cor castanho-avermelhado liquido, aparentemente hemorrágico (Fig. 1 A). No leitão de n2 as lesões intestinais são semelhantes e ainda há borbulhas de gás na parede do jejuno (Fig. 1 B).



A B



Fig. 1







Lesões histológicas, microbiológicas e parasitológicas:

Histologicamente há destruição massiva (necrose das villosidades intestinais e submucosa) da mucosa intestinal e presença de grande quantidade de bactérias bacilares no lúmen e superfície da mucosa. Uma coloração Gram demonstra grande quantidade de bacilos gram-positivos compatíveis com Clostridium spp (Fig 2). Um dos animais tem ainda enfisema (borbulhas de gás) na mucosa e submucosa intestinal (lesão típica desta patologia).



Fig. 2 Coloração Gram. Bacilos gram-positivos na superfície de mucosa intestinal necrócompatíveis com Clostridium spp.

Do conteúdo do intestino de cada animal e das porções de intestino com lesão e enviado em condições de aerobiosis e anerobiosis para isolamento bacteriano se isolou Cl. perfringens em cultivo puro, mas que não foram subsequentemente tipificadas. O antibiograma de um dos cultivos indica que a bactéria é sensível à penicilina, ampicilina, ceftiofur, doxicilina e resistente à oxitetraciclina. A citologia da mucosa intestinal é negativa para coccidia e cryptosporidium.



Diagnóstico: Enterite hemorrágica necrotizante associada a infecção por Clostridium spp. As lesões são indicativas de uma clostidiosis neonatal por Clostridium perfringens tipo C.

Comentários e discussão:

As lesões observadas e o estudos que descartam outras infecções indicam que neste caso os leitões têm uma clostridiose neonatal. Embora não se tenha chegado a tipificar o clostridium, as lesões de tipo hemorrágico e a presença de enfisema transmural da parede intestinal é característica desta infecção.

Esta infecção ocorre em leitões na primeira semana de vida e associada à não imunização ou má imunização das porcas e pode apresentar-se clinicamente em 4 formas: hiperaguda (caso dos leitões de n1), aguda (caso dos leitões de n2), subaguda e crónica. Na forma aguda os animais conseguem sobreviver 2 ou 3 dias e na hiperaguda a morte ocorre sem sinais clínicos e em poucas horas após a instalação da infecção. O quadro lesional destas duas formas (hiperaguda e aguda) é idêntico. Nas forma subaguda os animais morrem aos 5-7 dias de vida e o quadro lesional é um pouco diferente, com lesões fibrino-necrotizante da mucosa intestinal. Na forma crónicas estas ultimas lesões são menos extensas.

Desde um ponto de vista prático, foi concluído que provavelmente as porcas destas ninhadas tinham sido mal imunizadas, e foi ainda decidido não vacinar os leitões ao primeiro dia de vida.

Nota: Este caso é uma contribuição da Universitat Autónoma de Barcelona e foi reeditado por Ana Resendes